16 de mai. de 2020

NÃO E NÃO! NÃO É PALAVRÃO!

Dentre as notícias que vejo sobre a tal reunião de 22 de abril, está aquela na qual se diz que houve emprego de palavrões. Quando os comentaristas de Tv liam um das frases, evitavam o palavrão e a técnica emitia um sinal sonoro.
Assistindo ao "Em Ponto" da Globo News, naquela hora em que a comentarista Júlia Duailibi faz a "ronda dos jornais", lendo as notícias, chegou a hora de ler uma manchete da Folha, em que estava escrito: "Não vou esperar foder minha família...". Penso que muita gente "pro" e "contra", além de "neutra", incluindo crianças, viu essa palavra exibida na Tv. Mas a Júlia preferiu evitá-la e disse que o presidente falara um palavrão, enquanto aquele sinal sonoro aparecia.
Não vi sentido em esconder a palavra falada, já que estava escrachada na primeira página, "pra surdo ouvir, pra cego ver" (Xote dos Milagres, de Dorgival Dantas, segundo o Vagalume). Quando a gente vê nas rodinhas de amigos, meninas e meninos das melhores famílias falando tudo aquilo que era proibido quando eu era rapaz; quando a gente vê e ouve jogadores de futebol fazendo a mesma coisa, os microfones dentro dos campos captando tudo e jogando para dentro da casa da gente, penso que não há mais espaço para pudicícia conveniente e políticamente correta.
Não sou filólogo nem latinista, mas o Professor Sardinha (1950 a 1953), no Colégio Municipal de Belo Horizonte, e o Professor Altimiras (1955), no Colégio Estadual, em Belo Horizonte, ensinaram-me algumas coisinhas de latim, conhecimento que o tempo já levou. Também recebi alguns parcos conhecimentos de etimologia, com o Cônego Siqueira (nome de Escola Municipal em BH). Devo ter ficado metido à beça, porque, lendo o termo foedere, em latim, que pensava significar cavar, e podendo ser imaginada uma comparação de movimentos entre o ato de cavar e o ato sexual, imaginei que da palavra foedere poderia ter derivado a palavra foder. Achei o máximo ter pensado assim. Ledo engano!... A fala do presidente veio em meu socorro, levando-me a pesquisar. Achei coisas interessantes sobre a palavra foedere: vinculo, afeição natural, pacto, aliança... Não vi qualquer referência a "cavar", como pensara. Afinal, o ato sexual pode envolver tudo isso que vi no dicionário, abstraindo-se aquela imaginada semelhança de movimentos e pensando mais nos aspectos sociais, amorosos e românticos. Achei melhor. Mas não fiquei satisfeito. Segui na pesquisa, agora sobre a palavra "cavar" em latim. Encontrei a palavra fodere, significando cavar. Ah, então é isso? Penso que sim mas não é tudo. Outros significados não muito diferentes, encontrados em dicionário, poderão estimular a imaginação de um sexólogo a explorar mil mundos.
Ficar só por aqui? Não! Não me contento. Tenho de pensar em aspectos sociais.
Vê-se que, analisando o lado romântico (que não tem a ver com a etimologia, mas suscita pensamentos afetivos e românticos), imagino que, se foder fosse um desenvolvimento linguístico de foedere, então o ato sexual seria uma coisa romântica, amorosa, vínculo, aliança, afeição natural... Encontrei mesmo uma citação - ut transeas in foedere... - que, de maldade deixei para atiçar suas imaginações pecaminosas, porque o texto refere-se a "pacto do Senhor nosso Deus". Afinal, o tal transeas poderia remeter (cuidado!) à palavra mais usada modernamente para referência a ato sexual. Não sejam apressadinhos. Seguindo no raciocínio, imaginei que fodere poderia ter-se transformado, pela evolução da lingua, em foder. No dicionário, "designação vulgar para relação sexual". O sentido de cavar poderia  estar presente., Acho-o grosseiro, enquanto que pacto, aliança, afeição natural pareçam-me guardar algum sentimento afetivo melhor.
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Não importa se o sentido da palavra possa ser um ou outro. Mas nenhuma das duas palavras latinas poderia ter dado origem aos sentidos de "causar mal ou sair-se mal", "arruinar-se", "desgastar-se", "desejar que algo ou alguém não tenha sucesso" e muitos sentidos em que é usada vulgarmente.
Avançando em pensamentos, imaginei que o homem - e penso apenas em ser um homem, porque tenho visto, parece que só homem fode, mulher é fodida - um homem, em algum lugar e algum tempo, tenha imaginado que, praticando o ato sexual com uma mulher, estaria fodendo-a e que, com isto, fazia e/ou desejava grande mal a ela. Não gostei do pensamento. Maldade do homem? Machismo?... Se houver homem que pense assim, não merece qualquer mulher.
Por isto, vou reduzir a expressão foder só no sentido de praticar relação sexual, relacionando-a a transar... tudo de bom, não mais de fazer mal, desejar a desgraça... tudo de ruim.

Imagem: Foder - Forêts e Developpement Rural - Pour un monde meilleur.
https://forest4dev.org/foder/organigramme/

2 comentários:

Jan-Frits Obers disse...

Oba, que aula hein? O holandês aqui esta tendo reforço rsrsr. Um forte abraço e parabéns pela sua lucidez de sempre!

marco antônio comini christófaro disse...

Jan do Céu! Revendo esta postagem, encontrei seu comentário. Que bom! Foi só uma viagemzinha sobre o tema. E como cada um pensa o que quer (liberdade de pensamento), posso pensar o que quiser. Divirto-me. Abraço!