20 de mar. de 2018

ONTEM, ACORDEI COM A MACACA!

Só mais tarde percebi. Vi, então, que era uma macaca potencial.
Minha mulher saiu para trabalhar, na hora habitual (seis e meia). Pouco depois de ela sair, percebi que tinha esquecido os óculos. Ia ligar perguntando se queria que os levasse, quando o interfone tocou. Perguntou-me se podia descer com eles. Quando cheguei, encontrei-a conversando com a síndica do prédio, a qual disse que não pudera ir ao trabalho porque havia uma caminhonete mal estacionada, bloqueando a saída de seu carro. Assinale-se que dita síndica tem dificuldades visuais e uma amiga chega a pé para dirigir o carro dela. Essa amiga não conseguiu sair com o carro da síndica. Retornou à casa a pé para buscar o seu carro e retornou para levar a síndica, o que atrasou as duas para o trabalho.
Fui ao estacionamento. Encontrei uma caminhonete ("gabinada") muito bonita, e muito mal estacionada mesmo. O condutor - que não sei quem é - deixou espaço grande à frente e ocupou, à retaguarda, a área de manobra. No mais, foi estacionada em uma vaga que
pertence ao apartamento aonde moram estudantes que não têm carro (costumam vir parentes em carro, em fins de semana). Algumas, saindo para a escola, foram consultadas e disseram que a caminhonete não lhes pertencia.
Fiquei deveras irritado!
Fui ao apartamento e escrevi em um papel, em tinta vermelha: "TRAVOU TUDO".
Quando retornei, a caminhonete havia sido retirada e vi, no chão, o papel em que escrevera, esmagado e jogado no chão. Pareceu-me que o condutor da caminhonete ficara muito irritado. Senti-me esmagado, como o papel. E lamentei que a pessoa que fizera aquilo jogara o papel no chão. Mas - humano que sou - também fiquei muito irritado. E pensei: "se eu tivesse a força do Hulk, teria esmagado a caminhonete; só não teria deixado no meio do estacionamento, teria jogado no lixo".
Não ficou por aí. Fui estudar música. Ao chegar em uma confluência com rua mais estreita, vi dois carros "se encarando" (sem bronca"), porque a rua é estreita. O condutor de um deles afastou-o (penso que, se tivesse feito manobra melhor, não teria ocorrido a coincidência). O outro pode passar livremente e o da manobra (verifiquei ser um amigo) subiu. Continuei seguindo a pé. Quando ia chegando ao Carmelo, aonde se celebra missa pela manhã, havia vários carros
estacionados sobre o passeio (o que obrigava pedestres a caminhar pela rua). Já publicara uma nota sobre isto, poucos dias antes (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2018/03/acessibilidade.html). Resolvi fotografar tudo e voltar ao assunto. Enquanto o fazia, aquele amigo que passara por mim lá em baixo, vinha descendo. Também ia para o Carmelo. Mas
Era só andar uns 50 metros. Havia espaço ali.
cuidara de seguir com seu carro e buscar estacionamento na rua transversal acima (não sei se velhas manias de Policial Militar). Conversamos rapidamente e mandei-me para meu estudo de música, bem mais leve.

Mas não pude deixar de fazer comparações. Sei que os dois fatos que relatei aqui são recortes sociais de má educação e até de grosseria (no caso de esmagar o papel e jogá-lo no chão) ou birra, mesmo. Sei, por vivência - observação no trânsito e mesmo em condutas explícitas de "pessoas de bem" - que há um segmento muito grande de pessoas que fazem as mesmas coisas ou quejandas, e que se metem a querer de outros qualidades que não praticam (com facebook e tudo). Como é que uma pessoa (que ainda não sei quem é, corro o risco até de ser um amigo) comporta-se assim em um estacionamento de um condomínio com apenas seis condôminos, e como é que pessoas que se levantam cedo para irem a uma missa (devem responder, piedosamente, ao padre: "pela paz no mundo" - "oremos ao Senhor"; "pela harmonia entre as pessoas" - "oremos ao Senhor"...), como é, repito, que pessoas desse jaez possam querer que uma mulher nascida, criada e crescida em uma favela seja modelo de comportamento?

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