18 de fev. de 2012

FUTEBOL, EDUCAÇÃO, GENIALIDADE, MALANDRAGEM.




Genialidade e malandragem costumam ser as qualidades mais apreciadas em jogadores de futebol. Nilton Santos reclamava de que, depois de todos os brilhantes serviços prestados ao Botafogo e à Seleção Brasileira, os comentaristas esportivos, muito tempo depois da copa de 1962, ainda lembravam aquele célebre passo para trás, para sair da área e evitar que o juiz marcasse pênalte (não me lembro de ter visto pênalte com acento. Muitas vezes, escrevem em inglês. Então, como dizia o Stanislaw Ponte Preta - nascido Sério Porto, confere aí, revisor. Como não tenho revisor, socorri-me do Aurélio. Está lá: pênalti. Corrige aí, daqui para a frente, e pronto!). Voltemos ao Nilton Santos. Era um jogo Brasil x Espanha, perdíamos por 1 x 0 e um segundo gol, de pênalti, poderia ter decretado a desclassificação do Brasil. O juiz foi na onda e o Brasil venceu, classificando-se e acabando campeão. Mas os cronistas esportivos jamais esqueceram a malandragem do Nilton Santos e, apesar da contrariedade dele, continuaram dando maior destaque à malandragem do que à genialidade, no que ele foi titular - o maior lateral esquerdo do mundo, em todos tempos, segundo muitos.
Os técnicos também dão muita importância à malandragem. Se não, coibiriam as malandragens dos jogadores (como um certo Telê Santana). Embora haja alguns lampejos de esportividade, no voleibol, principalmente - quando jogadores chegam a acusar um contato com a bola que saiu - jogadores de futebol caem em campo, simulando falta, seguram rapidamente o calção de um adversário e soltam imediatamente, desequilibrando o adversário, mas ocultando a falta. Sou contra o cartão amarelo para a simulação, porque tenho visto muitos árbitros errando, deixando de marcar pênalti e aplicando o amarelo no jogador que caiu. Acontece, também, que muitas quedas não resultam de falta mas de um tropeço e o jogador não simulou. Mas os árbitros não deixam de ter alguma razão. Hoje, assistindo ao jogo Mirassol x Santos, pelo campeonato paulista, vi o Ganso caindo após um choque e, no mesmo lance, o Neymar caindo, também. O Ganso chegou a ficar no chão. Acontece que, ato contínuo, um jogador do Santos retomou a bola e engrenou um contra-ataque. Foi o bastante para que o Ganso, principalmente se levantasse, ligeirinho, e saísse correndo - com o Neymar indo na onda. Como é que os juizes podem acreditar em boa fé?
No mesmo jogo, dois atletas do Mirassol praticaram faltas em que foram no corpo do jogador, ignorando a bola. Reclamaram do amarelão, veementemente. Em voleibol, não sendo qualquer deles capitão, isto resultaria em dois pontos para o adversário. Pode ser muito severo, em um esporte de resultados apertados, penalizar com um ponto. Mas que dá vontade, dá.
E a genialidade, onde fica? Penso que nossos comentaristas precisam criar gênios. O Ganso foi qualificado como gênio, no jogo de hoje. Ou não sei analisar, ou vi outro jogo, ou o Ganso não foi gênio. O motivo da qualificação foi em uma única jogada, que resultou em pênalti a favor do Santos. O Ganso ia aplicando um lençol no zagueiro, que cortou a trajetória da bola com a mão. Mas muitos jogadores fazem isto, habitualmente. E, se todos são gênios, não há gênio. Acho que o Ganso já mostrou muito mais, em um Santos que corria muito, no meio campo e no ataque. A saída de alguns jogadores tornou o time lento. O Ganso é muito lento. É freqüente vê-lo entregar uma boa e dar a impressão de que já cumpriu sua missão: não se desloca, chega a sair andando displiscentemente. Isto aconteceu até no jogo contra o Barcelona, no mundial de clubes. Não vi o gênio. Vi um jogador lento. Se o Ganso é gênio, em que patamar estiveram Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Rubens, Zico e muitos outros, que se matavam em campo? Prefiro acreditar no meu velho professor Veloso, do Colégio Estadual de Belo Horizonte, segunda metade da década de 1950, aula de filosofia: "o gênio é 10% de inspiração e 90 % de transpiração". Já naquele tempo.
Finalmente, a educação. Deixo para o fim porque comento falta de. Jogadores xingando, gritando palavrões, ouvi o repórter de campo comentar que o quarto árbitro dirigiu-se, delicadamente, ao banco do Santos, e pediu que se portassem com educação, que evitassem os palavrões. Alguém do banco retrucou: quer educação? volte para a escola!
Penso que, exaltando, com insistência o malandro, qualificando de gênio qualquer um, e expulsando de campo a desportividade e a educação, estaremos contribuindo para distanciar a Seleção Brasileira da Copa do Mundo.

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