22 de abr. de 2012

UM LABORATÓRIO NO ESTÁDIO DO MAMORÉ

Passei muito tempo sem freqüentar estádios de futebol. Prefiro a comodidade da televisão, que não se restringe a assistir ao jogo deitado, cômodamente. A ida ao estádio é razoavelmente tanquila. Para isto é preciso ir mais cedo e levar cuidados contra o sol forte. Mas achar um lugar para o carro, a exploração nas áreas de estacionamento improvisadas, a disputa e os preços dos "tomadores de conta" (sem que você tenha a garantia quanto à segurança do veículo), a procura de um lugar nas cadeiras ou na arquibancada, tudo isto começa a cansar. "É preciso muito amor", como diz o Chico da Silva. Mais amor ainda para assistir ao jogo com pessoas levantando-se à sua frente, passando para ir ao bar (ou voltar, às vezes entornando o refrigerante), exatamente quando de uma jogada de perigo, a favor ou contra seu time. A volta é muito demorada e cansativa. Sem falar da possibilidade de alguém mais estressadinho, inconformado com o resultado, causar dano ao seu automóvel. Nem vou comentar do risco ser ameaçado e até agredido em tumulto que aconteça por perto (coisa mais rara, nas cidades do interior).
Ontem fui assistir ao jogo Mamoré x Ipatinga, módulo 2 do campeonato mineiro, em Patos de Minas.
Verifico que, para assistir ao jogo, é melhor a televisão. Conforto, repetições de lances, em vários ângulos, poder comer ou tomar alguma coisa a qualquer momento, sem incomodar nem ser incomodado... Mas para conhecer o ambiente do futebol, é muito melhor ir ao estádio. É um verdadeiro laboratório.
Já falei sobre duas condutas absolutamente contraditórias de um mesmo torcedor, uma ocorrida menos de um minuto após a outra, tudo movido a paixão (Quando Impera a Paixão, http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2012/04/quando-impera-paixao.html).
Minha mulher e eu sentamo-nos ao lado de uma senhora que aparentava ter entre 50 e 60 anos de idade. Talvez nem fosse "classe c" (lamento mas é, atualmente, uma das poucas formas de dar uma idéia de pessoas,de personagens). Solitária, vestia a camisa do Mamoré. Como não tinha com quem falar, conversava baixinho, todo o tempo, com todos os jogadores do Mamoré: "vai, menino"; "volta, menino''; "ó o cartãozim amarelo"; "o pênalte é a nosso favor"... Não ouvi o que dizia, porque minha mulher era quem vizinhava com ela. Comentava comigo, às vezes. Pelo que me foi transmitido, a mulher não xingou nem criticou qualquer dos jogadores do Mamoré. Tratava-os por "menino". Comemorou cada gol e a vitória de seu time.
Achei muito bacana, uai. Um amor silencioso, quase introspectivo, porém manifesto e persistente. Declarações restritas apenas aos dois vizinhos de arquibancada. Muito sinceras, comedidas e respeitadoras dos profissionais que, muitas vezes, são xingados grosseiramente, quando não satisfazem as paixões dos torcedores (minha mulher observou um torcedor que xingava o rádio, colado ao ouvido, ou o narrador, porque, quando narrou a marcação do pênalte favorável ao Mamoré, falou que era a favor do Ipatinga).
Voltei com a intenção de ir mais aos estádios. Poderei ver muitas coisas desagradáveis. Mas a torcedora do Mamoré molhou minha alma. Com água benta.

Foto - Vista do Estádio Bernardo Rubinger, em Patos de Minas: Explosão do Rádio.
http://explosaodoradio.blogspot.com.br/
Sapo (símbolo do Mamoré): AG Esporte.
http://www.agesporte.com.br/mamore-comeca-com-o-pe-direito-no-quadrangular-final-do-modulo-ii/

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