16 de mar. de 2014

INFLAÇÃO: ASSUNTO PARA MENORES DE 35 ANOS.

Assunto que só deveria ser tratado por economistas? Jeito nenhum, uai. Economistas falam economês, língua que a grande maioria de eventuais interessados não consegue entender. Nem passo perto. Mas sei bem quais são os efeitos da inflação. Como sei!
E porque é que recomendo a leitura apenas para os menores de 35 anos. Conhecendo a história, poderão orar e vigiar para que o negro período inflacionário não retorne à cena, de ditadura do FMI e quejandos, pior do que aquela atribuída aos militares. Quanto aos maiores, observo que tem velhinhos por aí – minha idade – que, se lerem, poderão até chorar, rememorando tudo o que sofreram com as maluquices dos administradores públicos.
A inflação foi debelada pelo Plano Real, em 1994. Menores de 35 anos, até os que têm cerca de vinte anos, estavam na doce idade em que a inflação era problema dos pais. Poderão ter-se queimado por algumas das labaredas do tal dragão. Mas quem tinha de pular miudinho, tentando escapar do fogo cerrado e amplo eram os pais – muitas vezes sem sucesso.
Leio em “20 anos do Plano Real”, por Marcela Bourroul e Michelle Ferreira (http://20anosdoreal.epocanegocios.globo.com/), que, no início da década de 90, todas as tardes, um dono de açougue recolhia todo o dinheiro do caixa e corria ao banco, para depositá-lo. A inflação mensal chegava a 80% e a maioria dos empresários passou a ter nas aplicações financeiras a garantia de seu lucro. O overnight era a “ferramenta de trabalho”, fazia o resultado do negócio. Mais do que o cliente. Dizem as autoras, então, que “...A corrida diária aos bancos deixou de ser rotina após 1994, quando a estabilidade econômica, trazida pelo Plano Real, pôs fim ao lucro via aplicações bancárias e exigiu que as empresas garantissem o resultado com a produtividade do negócio e não no mercado financeiro”.
Ora direis: uai! então a inflação era um grande negócio!
Para quem agia como o sr. açougueiro - e tinha de agir assim, para não quebrar - poderia ser, embora sem garantias, já que a inflação não respeita patrimônios, nem assegura que o consumidor possa comprar sempre.
Mas para o consumidor da massa – eu estava nessa parada – Deus nos livre!  A maioria estava vinculada a salários cujos valores eram “corrigidos” pela inflação do mês anterior, o que a obrigava a correr atrás daquela que viria no dia seguinte. Os preços aumentavam e o governo aumentava os valores absolutos dos impostos, sempre em percentuais. Por isto, o assalariado tinha de fazer a corrida inversa àquela do sr. açougueiro:  receber o salário e sair correndo para o supermercado, porque, se deixasse para o dia seguinte, teria de pagar cerca de 2,5% a mais. E no curso do mês, seu dinheiro valia menos, a cada dia, na mesma proporção. Uma loucura!
Só para exemplificar: já paguei com cheque pela compra de um dentifrício, uma escova de dentes e um sabonete. Se quisesse pagar com dinheiro as miudezas que adquiria, teria de andar com uma grande mala cheia de dinheiro.
Por que esta lereia toda? Porque me assusta a subida de um ponto percentual na inflação. Matreiramente, devagarinho, fingindo inocente, ela pode ganhar um espaço enorme na nossa vida. Se a inflação subiu de 4% para 5%, a impressão que se pode ter é de que subiu 1%. Lego engano, meus irmãos! Subiu 25% pois 1% corresponde a 25% de 4%. Aí é que mora o perigo de acreditar que está sob controle.
Não estou querendo bancar o arauto do caos, nem torcendo contra. Estou mesmo é com medo, porque não vi, nos dois últimos governos, qualquer referência elogiosa ao Plano Real - porque não é criatura desses governos - mesmo sabendo que, se houve dinheiro para financiar programas sociais, progressivamente, foi porque o Setor Público saiu da miséria em que também vivia, reajustando salários mensalmente e adquirindo produtos e serviços diariamente encarecidos por causa da inflação. Sem falar da corrupção... até nisto a inflação pode ajudar.
Cachorro mordido de cobra corre de linguiça!

Imagem: veja.com
http://veja.abril.com.br/040608/p_142.shtml


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