1 de dez. de 2012

INVEJO GANDHI

Por muitas coisas! Não consigo ser pacifista, emocionalmente (no íntimo, penso: bateu, levou!). Pretendo sê-lo, mas costumo dizer que tenho um bicho muito feio dentro de mim e tenho de puxá-lo para dentro, pelo rabo, freqüentemente. Talvez por isto não acredite que possa haver homens bons, em grande número. Será que só eu sou danado? Não conheço informação estatística sobre o índice percentual de santos, relativamente à população com que conviveram, cada um em seu tempo.
Venho fazer minha confissão, porque encontrei uma mensagem acompanhando um e-mail:

"Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo." Mahatma Gandhi

Acho lindo! Mas tenho minhas dúvidas.
Primeiro: podiam ser apenas algumas gotas de água suja no oceano, no tempo em que Gandhi viveu (1869 - 1948). Hoje, há sujeira demais no oceano em que nenhuma Rio + 20 dá jeito.
Segundo: Gandhi não esteve preso só porque tivesse feito greve de fome. Procurei algumas informações. Se não estiverem corretas, e-biografias (http://www.e-biografias.net/mahatma_ghandi/) informou-me mal.

"Mahatma Gandhi destacou-se como principal personagem da luta pela independência indiana. Recorria a jejuns, marchas e a desobediência civil, incentivando o não pagamento de impostos e o não consumo de produtos ingleses. ... Em 1922 uma greve contra o aumento de impostos reúne uma multidão que queima um posto policial e Ganghi é detido e condenado a seis anos de prisão. Em 1924 é libertado e em 1930 lidera a marcha para o mar, quando milhares de pessoas andam mais de 320 quilômetros, para protestar contra os impostos sobre o sal."

Não estou questionando se Gandhi e o povo indiano tinham razões. É claro que acredito na necessidade e conveniência de cada povo ser o senhor de seu nariz. Apenas registro que só os jejuns e a inércia não foram capazes de conquistar isto. Sempre pensei que ninguém me trará, em bandeja, a parcela de poder que me pertence, mas que me escamoteiam.
Estaremos dispostos a uma "marcha para Brasília"? Estaremos dispostos a não consumir produtos estadunidenses, que continuam só nos vendendo e nos comprando em inglês?
Os homens, em sua maioria, temem muito a possibilidade de perderem o pouco que têm, mesmo que possam conquistar mais do que isto. Penso, também, que, se todos lutarem, alguns se acharão no direito de ter o maior naco de carne, o pão maior e melhor, o colchão mais macio com as mulheres mais lindas e, por extensão, jóias, palácios...
Não! eu não creio! Invejo, mas não creio! (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2012/05/experiencia-poetica.html)

Imagem: A Voz do Raio Rubi
http://rosane-avozdoraiorubi.blogspot.com.br/2010/09/biografia-de-gandhi.html

2 comentários:

Pao-Lo disse...

Eu acho que santo só vira santo depois que morre não é à toa.
Já somos bons, já evoluímos, respeitamos regras de convivência, evitamos causar o mal... já é uma baita duma evolução.

As sociedades vão melhorando, mas bem devagar. Leva muito mais tempo que o tempo das nossas vidas. Acho que por isso temos a sensação de que ou nada muda ou tudo piorou. Vai ver piorou mesmo, mas numa visão geral do gráfico a curva é de subida. Mas é bem lembrado que, podem ocorrer décadas de retrocesso até que algo retome seu prumo.

Como espécie que preserve uma cultura, que tenha leis... somos muito novos, quase recém nascidos.

Os escorpiões habitam a terra há cerca de 350 milhões de anos. Dizem os cientistas que é grande a probabilidade de terem sido os primeiros a viver exclusivamente em terra firme.
E ainda fazem a mesma coisa.
Escorpiões e baratas são quase um argumento pro ateísmo hehehehhe.

Comini, nós somos bons, muito bons, por mais que existam demônios dentro da gente. Talvez nunca deixem de existir. Mas só da gente conseguir domá-los parcialmente já é sinal de santidade.
Porque temos muiiiitos motivos pra sermos ruins.

Eu não sou ateu, mas tb não tenho certeza da existência de vida pós morte. Se eu não fosse um sujeito bom, só por essa incerteza e por ter que suar pra ganhar o pão (suor de músico vc conhece bem.... é bem mais salgado :O) eu já teria motivos pra não contribuir em nada pra civilização; com absolutamente nada.

Mas temos aquela coisa (Freddie Mercury bem dizia "crazy little thing called love") que é até mais forte que a gente. Você deve ter com muitos; pra mim basta olhar um ou outro sobrinho... o olho mareja e a gente sente que quer ser bom :o)

Falo demais hehhe. Mas o Dostoievsky tem das melhores frases sobre o tema (louco, revolucionário, criminoso, santo e genial que era):

"Algumas pessoas só são ruins porque não sabem que são boas."

OBS: esse seu blog e ter levantado esse tema é sinal da sua santidade-humana ;o)

marco antônio comini christófaro disse...

Paulim do Céu! Ainda não processei esse seu texto! Preciso de contradições, porque tenho mais empatia com Nelson Rodrigues, que diz que "A chamada consciência humana é o medo do rapa". Cruel! Mas tem muito de verdade. Continuo com inveja do Gandhi. E, agora, de você! Obrigado pelo pitaco. Grande abraço!