29 de mai. de 2012

ENCONTROS FURTIVOS

Furtivo, segundo me ensina um dicionário de confiabilidade razoável, é algo que se faz às escondidas, disfarçadamente, secretamente.
O encontro do ex-presidente da República com o Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim parece-me evento que, para ser negado, é preciso - se alguém vier a negar, o que não me assustará - que o seja pelas três pessoas referidas, eis que todos já o confirmaram. Versões inicialmente apresentadas já sofreram modificação. Portanto, não convém discutir o que foi dito nessa reunião, nem quem disse. Prefiro tratar da natureza da reunião e da conveniência.
Analisemos a situação de cada personagem.   
Presumo que o ex-presidente da República tenha interesse pessoal e partidário envolvido no julgamento do mensalão. Pessoal porque é pessoa intimamente vinculada ao Partido dos Trabalhadores, de cujo crescimento, desenvolvimento e prestígio foi um dos artífices e continua suporte. O interesse partidário penso que decorre do fato de ser uma das autoridades relevantes dentro do partido e de que, havendo vários ícones do mesmo submetidos ao julgamento do mensalão, uma decisão desfavorárel poderá respingar sobre o prestígio partidário.
O Ministro Gilmar Mendes é um dos prováveis julgadores do caso do mensalão. Tem o dever e a responsabilidade de não tratar desse caso, principalmente em caráter reservado, com quem quer que seja, pena de perda de credibilidade e de confiança.
Quanto ao ex-ministro Nelson Jobim, não consigo imaginar por que terá sido escolhido anfitrião do encontro.
Não podemos considerar nebulosa a natureza do encontro. Não foi feito nem no STF, nem na residência do Ministro Gilmar, nem na residência do ex-presidente, ou escritório em que eventualmente exerça atividade partidária. Tivesse o encontro acontecido em um desses lugares, ou mesmo em restaurante, e certamente a Nação teria tomado conhecimento, pois que em qualquer deles haverá, sempre, um agente de notícias da mídia. Ficou claro ou que nenhum dos dois queria isto, ou que um dos dois não queria, mas acedeu à preferência do outro. O primeiro porque muitos iriam pensar (ou inventar) que trataria de interesse dos réus do mensalão. O segundo porque poderia pairar sobre ele a suspeita de favorecimento, podendo ocorrer de até vir a declarar suspeição e exonerar-se da tarefa de julgá-los.
Quanto ao terceiro - o anfitrião - vi notícia de que afirmou não ter participado de toda a conversa.
Não se tratava, pois, de um encontro de três amigos. Se tiver assistido a toda a conversa, estará escondendo da Nação o seu participar integral. Se não tiver assistido, tanto poderá ter sido porque não se interessou quanto porque terá sido excluído. Na última hipótese, poderá ter sido porque um ou os dois não queriam testemunha da conversa.
O meu raciocínio poderá estar errado. Mas poderá não estar, principalmente porque estou raciocinando sobre mais de uma alternativa, em cada uma das hipóteses.
Assim raciocinando, posso pensar o que quiser sobre um assunto que a  mim interessa tanto quanto a qualquer outro cidadão. Pior: acreditarei em qualquer coisa que me disserem.

Imagem: Tear Pontão de Cultura e Educação.
http://institutotear.org.br/yoga-para-a-pessoas-em-situacao-de-rua/

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