6 de jun. de 2012

COERÊNCIA: COMO O SÓCRATES, DO PLANETA DOS MACACOS, SÓ QUERIA ENTENDER!

Leio Veja, sim! Sem constrangimento e sem vergonha. Muitas pessoas falam-me muito mal da revista. Continuo lendo. Não a acho nem melhor nem pior do que as outras que já folheei. Nitidamente político-partidária ou fazendo uma falsa oposição a todos os governos. Mete o pau em coisas dos ministros defenestrados e no PT. Mas elogia a Dilma e algumas ações dela, volta e meia. Como sou mais desconfiado do que burro de olaria, não consigo entender os objetivos.
No último número (edição 2.272, 6 de junho), estranhei. Na última página, o título "Nós e os outros". É matéria assinada. Daí, não sei se a revista encampa ou não o ponto-de-vista do articulista. Entendo que tem de encampar, principalmente porque lá está "Nós e os outros" e porque a matéria fala de outros órgãos de comunicação. Concluo que "Nós e os outros" são o autor e a revista. Pode ser que esteja errado. Paradoxalmente, pode ser que não. A matéria fala de como o povo brasileiro é iludido pela propaganda oficial (paga com o nosso dinheiro), mostrando coisas que não são verdadeiras. Já vi coisa muito pior, uma vez só (pareceu-me que a propaganda foi retirada do ar, imediatamente): na cena, uma maquete de uma casa que poderia ser de classe média, cerquinha, quintal, e quatro garotos. Um diz mais ou menos o seguinte: você fica aqui (e mostra na maquete), você aqui e nós dois entramos lá e obrigamos ele a abrir uma poupança na Caixa para nós. Era um plano de assalto! Usando crianças! Propaganda da Caixa Econômica Federal. Pagamos por aquilo e - pelo menos do que a gente saiba - ficou só na retirada da propaganda, não se tendo falado em a agência devolver o dinheiro. Penso que nem poderia, porque alguma autoridade da Caixa deverá ter aprovado a ação publicitária. Sei que acontece, sim. Mas vamos ao que entendo ser incoerência.
Excerto da matéria: "Os órgãos de comunicação, sem dúvida, se beneficiam da publicidade oficial; nenhum deles é uma santa casa de misericórdia, e todos têm de pagar suas despesas. Mas a imprensa de verdade vive do apoio do seu público e dos anúncios privados que ele atrai, e não de verbas publicitárias do governo. Seu único mandamento, nessa história toda, é manter a própria independência".
É claro que fui esquadrinhar a revista.
Nas páginas 82/83 (não numeradas), espaço duplo, uma propaganda do Governo do Rio de Janeiro, exaltando a conquista da qualificação de grau de investimento, concedida pela Standard & Poor's. Está lá: "O RIO DE JANEIRO MUDOU. A VIDA DE MUITA GENTE ESTÁ MUDANDO JUNTO". No exato momento em que Governador do Estado do Rio de Janeiro está tendo indicações de ligações com a Delta (amplamente noticiadas pela imprensa).
Nas páginas 102/103 (não numeradas), também espaço duplo, uma propaganda do Governo Federal: "O BRASIL RECEBE O FUTURO DE BRAÇOS ABERTOS". Coincidência ou não, uma negra com lindo sorriso e, no fundo, uma baita cachoeira. No texto: "O Brasil reafirma, com orgulho, o compromisso com a sustentabilidade do seu desenvolvimento e defesa do meio ambiente". Pois bem: tenho dito que não vejo como compatibilizar defesa do meio ambiente com exploração do pre-sal. De quebra, desconfio que todo esse movimento para que o povão compre automóveis, com inevitável incremento de pluição, assegure aumento do número dos consumidores de petróleo.
Nas páginas 112/113 (não numeradas), ainda espaço duplo, propaganda da Petrobrás: "LOGO, PETROBRAS apresenta imagem PLANETA sustentável". Pode estar reaproveitando mas é eminentemente poluidora, porque aproveita, junto, gás natural e petróleo.
Nas páginas 136/137 (não numeradas), espaço duplo, propaganda da Caixa Econômica Federal. Na mesmo bordão de "planeta sustentável" e afirmando: "A Rio+20 debaterá sobre 'o futuro que queremos' e a necessária transição para novos padrões de produção e consumo". E toma financiamento de carro - elemento de poluição - a juros menos altos.
Quatro propagandas do Governo - três envolvendo o Federal e uma o do Estado do Rio de Janeiro.
É coerente? Reportemo-nos ao bordão do macaco Sócrates: "Não precisa explicar. Eu só queria entender".

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