10 de jan. de 2013

INCONFORMADO: PERDI O SONO - EDIÇÃO ATUALIZADA EM 17/11/2014 // NOVA EDIÇÃO EM 17/11/2019

Acho o momento próprio para reeditar. Quando os caras querem, ninguém pára. Muitas vezes, aí é que mora o perigo!
Poucas vezes perdi o sono em minha vida. Em uma delas, rodei a baiana. Isto era possível porque envolvia uma relação profissional com uma única pessoa. No dia seguinte ao da bronca, dormi placidamente.
Estou inconformado porque, no final do ano passado, perdi o sono por causa de um montão de pessoas, contra as quais poderia até tentar rodar a baiana, mas com um trabalho imenso. Excuso-me de fazê-lo porque penso que não pode ser tarefa só minha. E, de mais a mais, se eu estiver com a razão, há um Ministério Público para cuidar.
Foi na úlima sessão do Congresso Nacional, no ano passado. Todo mundo deve estar lembrado: aquela briga por causa dos royalties do petróleo, o veto da Presidente, a proposta de derrubada do veto, uma ação no STF, que acabou determinando que a votação daquele veto só poderia ser feita depois de limpar a pauta de vetos. Não poderia furar fila - o que me parece perfeitamente lógico.
Os parlamentares adotaram uma medida que, de cara, pareceu-me absolutamente estapafurdia: votar todos os vetos presidenciais pendentes em uma única sessão - a última do ano. Tarefa pequena não: mais de três mil vetos a serem apreciados. Acho que não teria dado tempo de votar, ainda que se limitassem a dizer: veto tal, assunto tal, os que concordam em derrubar (ou não derrubar) o veto permaneçam como estão (é o jeito deles de votar). Para essa sessão, quiseram diferente: em uma apostila, com a relação dos vetos, o parlamentar deveria marcar seu voto, a favor ou contra. Os parlamentares têm muito mais experiência do que eu e, certamente, teriam uma noção: é claro que interessados em uma ou outra decisão ter-se-iam inscrito para debater. Dava tempo não.
Pois bem: segundo notícias que ouvi, pela TV, foi elaborada uma apostila com 463 - quatrocentas e sessenta e três folhas, contendo a relação de todos os três mil vetos que deveriam ser apreciados para limpar a pauta. Alguns vetos já haviam comemorado o décimo aniversário! O deputado Júlio César (PSD-PI) assegurou: "Vamos limpar pela primeira vez a estante dos vetos do Congresso Nacional" (está na página do Jornal da Globo http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/12/sessao-deve-votar-mais-de-3-mil-vetos-pendentes-no-congresso.html). Pura jactância do deputado, para balançar moita (ou experimentar cerca, como quiserem). A mesma fonte informou que o deputado Alexandre Molon (PT-RJ), menos viajandão, ou interessado em defender os interesses do seu estado, rebateu: "É uma temeridade, uma irresponsabilidade colocar mais de três mil vetos para serem apreciados numa única sessão do Congresso sem qualquer possibilidade de uma discussão séria, profunda sobre temas da maior importância para a vida Nacional".
Qualquer elemento estranho ao Congresso, mas que tivesse assistido a uma ou duas sessões de votação, pela TV Senado, saberia que seria discussão que não acabaria mais. Votar três mil assuntos em uma única sessão?
Armaram o circo assim mesmo. Os amarra-cachorros (expressão que vi usada para aqueles serviçais de circos que modificam o picadeiro conforme o próximo número; parece-me um ancestral do contra-regra), os amarra-cachorros, repito, prepararam, de véspera, caixas grandes para receberem os votos, caixas que o ANONYMOUS BRASILCOM (http://www.anonymousbrasil.com/congresso-tenta-driblar-stf-para-analisar-veto-dos-royalties-em-sessao-para-votar-as-pressas-os-mais-de-3-mil-vetos-acumulados-em-12-anos/) classificou de gigantes, e prepararam almanaques com 463 páginas cada um, um para cada parlamentar. Almanaques que serviram para nada, porque a sessão nem foi realizada. Era viagem dos congressistas. Os tais "almanaques", que pela TV eu vira serem chamados de "apostilas" não tiveram qualquer utilidade. Eu vi, pela TV, carrinhos e mais carrinhos transportando volumes e mais volumes inteiramente inúteis depois da decisão - mais do que esperada - de não serem realizadas as oníricas votações de vetos.
Vamos raciocinar, como teria dito um certo general: 81 senadores vezes 463 páginas resultam em 37.503 folhas de papel; 513 deputados vezes 463 páginas resultam em 237.519 folhas de papel. Mais de 275.500 folhas de papel.  Inutilidade pura! Quem pagou? Nós! Quem deveria pagar? Quem promoveu a pantomima, claro! Quem mandou gastar tanto, deliberadamente, tendo a obrigação de saber que o desfecho não teria sido outro. Por isto é que eu disse, de cara, que o Ministério Público deveria olhar isto, por todos nós. Malversação de recursos públicos.
Como é que teria conseguido ter dormido, pô?! Ah! Se eu pudesse cobrar de cada deputado e senador a minha noite de sono!

17/11/2014

Será que corro o risco de perder o sono novamente? Está em pauta a proposta do governo para alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal. A turma da base de apoio está correndo atrás. Mas há controvérsias... "o tempo ruge"!

2 comentários:

Jan-Frits Obers disse...

Vai dar muitos bloquinhos de rascunho... espero que não foi impresso no verso... mas não vou perder uma noite se sono com isto. Adorei a sua matéria amigo. Grande abraço.

marco antônio comini christófaro disse...

Ô Jan-Frits! Muito bom você por aqui! Daria, sim, bloquinhos de rascunho para farta distribuição. Mas você pensa que os caras querem compartilhar? Nem bloquinho de rascunho. Obrigado pelo comentário.