22 de jun. de 2013

ISSO AÍ EU TAMBÉM FAÇO!

Circo apinhado de gente. Acrobatas, malabaristas, contorcionistas, atirador de faca, palhaços... Maravilha! Aí, chegou a hora daquele grand finale, um número com um leão ferocíssimo como não havia outro no mundo inteiro, e uma linda garota que iria enfrentar a fúria do bicho. Os "amarra-cachorros" levaram ao picadeiro aquela jaula bem reforçada, com o tal leão dentro (conheci a expressão "amarra-cachorro" para designar aqueles trabalhadores de circo que carregam diversas coisas para preparar o palco para cada número; na tv, os contra regras. Procurei na rede, e não achei o significado).
O leão urrava altíssimo assustando os espectadores. Movimentava-se na jaula com a fúria de um leão enjaulado.
Foi quando apareceu a mocinha. Das mais lindas, corpinho de deusa, pernas muito bem torneadas, cabelo que estaria esvoaçando ao vento, se houvesse vento. Quando chegou perto da jaula, o leão urrou mais furioso ainda. Corajosa, a mocinha começou a abrir a porta da jaula. O leão avançou, urrando muito forte. A mocinha, fazendo charme, afastou-se, fingindo susto. O halterofilista projetou-se para protegê-la, ela, desdenhosamente afastou-o, agradecendo; os malabaristas tentaram puxá-la, para que se afastasse da jaula; os palhaços faziam poses e expressões de horror... A mocinha, irredutível e altaneira, falava bem baixinho para o leão:
- Calma, leãozinho! Calma!... Não vou fazer-lhe mal. Vou só acariciar você...(é claro que a plateia ouvia as palavras da mocinha e a deliciosa inflexão de voz, porque já havia microfone sem fio, de tamanho minúsculo, naquele circo, uai!).
A coragem da mocinha era indomável. Mas os gestos eram muito graciosos e a voz aquela delícia a despertar "os instintos masculinos mais primitivos". Continuou entrando na jaula, sempre conversando com o leão, mansa e persuasiva:
- Leãozinho lindo! Não tenha medo! Só quero acariciar você...
Os urros do leão iam diminuindo de frequência e intensidade, à medida que ela se aproximava e falava. Quando a mocinha conseguiu passar-lhe a mão na juba, ficou estático. Abaixou a cabeça (quem é que güenta cafuné de mocinha tão delicada na nuca?). Ela sempre falando baixinho, muito dengosa, com gestos delicados. Assombro! O leão passou a lamber-lhe os pés; evoluiu para a canela (a mocinha cada vez mais carinhosa); lambeu-lhe as coxas; aí, o umbiguinho, barriguinha das mais saradinhas...
A plateia em transe. Foi quando um camarada, bêbado, gritou lá do meio, bem alto voz pastosa:
- Isso aí eu também faço!
O dono do circo, furioso com a interrupção do grand finale, gritou, mais alto:
- Vem fazer! Vem, seu intrometido!
O bebum não se mancou:
- Então, tira esse leão daí!

Foto: Go J.J.'S.com
http://anti-solidao.blogspot.com.br/2010/04/o-evangelho-e-como-um-leao-enjaulado.html

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