11 de nov. de 2012

CABO TEODOLITO

Cabo Teodolito nasceu por necessidade de seu criador. Capitão da Polícia Militar de Minas Gerais, estava trabalhando com o Coronel Manoel Doro Pereira, de todos aqueles com quem trabalhei, o que mais me promoveu na Corporação (não promover de um posto para outro, mas mostrar o meu trabalho e badalar-me sempre que podia). Nunca o esqueço como a pessoa que mais se interessou por mim. Mas acho que não podia conter-se de fazer alguma sacanagenzinha, ainda que contra mim. Foi quando tentou introduzir a Dedé na minha vida. A Dedé era uma viúva, belos olhos azuis, com idade considerada avançada, no mercado de disponíveis, e que apregoava demais sua viuvez, dizendo-se muito solitária. Não sei se a intenção de meu chefe era livrar-se da Dedé ou simplesmente dar uma de bom samaritano e arranjar uma companhia para ela. Não me interessou, jeito nenhum. Telefonava-me sempre, declarava sua condição de viúva solitária, esses babados. Desviava-me, apelava pros meus santos, não adiantava. O telefone ficava na minha mesa e capitão não tinha telefonista. Foi quando resolvi dar à luz o Cabo Teodolito.
Desde então, passei a atender ao telefone:
- Inspetoria Geral, Cabo Teodolito.
Quando era a Dedé, perguntava por mim. Informava que o capitão estava viajando e que só chegaria na semana seguinte. Ou que estava em alguma missão que o manteria fora da repartição por alguns dias. Ou outra desculpa qualquer. A Dedé não se mancava. Insistita... Insistia... Insistia...
Mas o Cabo Teodolito era bom de serviço. Um belo dia, disse para a Dedé que o capitão estava hospitalizado e que seu estado era nada alentador, que não sabia se sairia de lá.
Foi o bastante para que a Dedé desencarnasse. Que arranjasse outro pretendido porque ela não era, definitivamente, meu sonho de romance.
Pouco tempo depois, passei a trabalhar com o Coronel José de Andrade Drumond, Chefe do Estado Maior da PM. Um degrau acima daquele em que estivera. De uma certa forma, fora promovido. Por justiça, promovi o Cabo Teodolito. Desde então, Sargento Teodolito.
Certo dia, atendi ao telefone:
- Chefia do Estado Maior, Sargento Teodolito!
- Sargento Teodolito? Que negócio de teodolito é esse?
Era o chefe. Fora instrutor de topografia e sabia bem o que era um teodolito. No mais, quando era surpreendido, não escondia e costumava não deixar barato. Tive calma:
- Sou eu, Chefe! Desculpe-me, mas esse tal de Sargento Teodolito é um auxiliar precioso, que me quebra vários galhos. Tive de recrutá-lo e tomá-lo a meu serviço.
O Coronel, sempre muito bravo, era compreensivo com seus auxiliares.
Seguiu Sargento Teodolito até que fui promovido a major. Tinha de promover também aquele que me era imprescindível. Virou Subtenente Teodolito. Mais tarde, Tenente Teodolito, quando fui promovido a tenente-coronel. Finalmente, transferido para a reserva, promovido ao posto de coronel, não tive como não transferi-lo também para a inatividade. Embora não tivesse o mesmo tempo de serviço que eu - já contava quase quinze anos de serviço, quando o dei à luz, início de sua carreira  - achei que o descanso da vida castrense era-lhe merecido. Prestara-me serviços relevantes.
Virou Capitão Teodolito.

Um comentário:

Unknown disse...

Onde você foi amarrar sua egua! Tenho restrições aos dois confirmadas matematicamente.Parabéns pelo texto!