4 de nov. de 2012

NEGROS NA SELEÇÃO RUSSA DE FUTSAL

Confesso que tive conceitos racistas em futebol. Não exclusivo de qualquer etnia, mas de melhores desempenhos desta ou daquela, em determinadas posições. Achava que os melhores goleiros eram brancos, que predominaram durante muito tempo, na Seleção Brasileira: Castilho, Gilmar (1958 e 1962); Félix (1970); Leão (1970, 1974, 1978 e 1986); Waldir Peres (1982); Taffarel (1990, 1994, 1998). Para mim, zagueiros centrais eram brancos: Augusto (1950); Belini e Mauro (1958 e 1962); Oscar (1978). Volante, penso que predominavam brancos: Zé do Monte (Atlético Mineiro, muito respeitado). Danilo Alvim (Vasco e Seleção); Pampolini (Cruzeiro e Botafogo); Dino Sani (São Paulo e Seleção). Achava que, nas laterais (Nilton Santos fora) e do meio do campo para a frante, predominavam negros e mulatos. Meio de campo, então, a coisa era séria: Rubens (Flamengo), Zizinho (Flamengo, Bangu, São Paulo), Valter Marciano (Santos, São Paulo, Vasco e Valência); Jair da Rosa Pinto (Flamengo, Palmeiras, Santos e Vasco); Didi (Fluminense, Botafogo, Seleção) Moacir (Flamengo, Seleção). Pontas dos dois lados, centro-avantes, meias... montão de gente e um famoso camisa 10.
Quando pensava sobre isto e sobre as peladas de que participei, achava que negros não se destacavam no gol e até o meio do campo porque sempre foram bons de ataque: habilidosos, rápidos e fortes. Verdade é que goleiro era ou o dono da bola ou quem não conseguia emendar dois passes e dois dribles. Aí era terreiro do negro, do mulato.
A situação começou a mudar. Antes que "São Marcos" chegasse, tivemos alguns goleiros negros na Seleção. Zagueiros também. Cerca de cinqüenta anos depois, a seleção - e os clubes, obviamente - estão devidamente miscigenados.
Não foi fácil. João Saldanha, que foi técnico do Botafogo e da Seleção Brasileira, fala da discriminação racial nos times profissionais, no Brasil*. Escreveu:
"Quantas vezes, no Botafogo, e isto também acontece em outros clubes brasileiros, fui surpreendido por um diretor pedindo: 'João, vê se dá um jeito nisto e manda esses crioulos saírem da sede. Não pode, não é?' ".
Saldanha saía pela tangente, explicando que não era assunto dele. Conta que ficava matutando sobre os contrastes gritantes dos dias das grandes vitórias, quando a sede ficava cheia e entrava qualquer um; quando o mesmo diretor que discriminava na sede abraçava brancos e negros suados, após as vitórias. Diz que, com o desenvolvimento do futebol, no Brasil, alguns clubes resistiam. No Rio de Janeiro, Fluminense, Botafogo e Flamengo não admitiam que negro vestisse sua camisa (hoje, a torcida do Flamengo intitula-se "urubuzada"). Conta que até na seleção de 1958 predominou a idéia do time mais branco possível. De fato, nos primeiros jogos, o time titular só tinha Didi negro. Seu reserva, Moacir, também era negro. Com algumas mudanças, Pelé e Garrincha encarregaram-se de espantar o racismo, junto com Zito. Djalma Santos, negro, jogou apenas no jogo da decisão. Foi reconhecido como o melhor lateral direito de toda a competição. Com um jogo só.
Pensei nisto hoje, quando vi negros jogando futsal pela seleção da Rússia. Brasileiros. Naturalizados russos, naturalmente. Apesar de Roberto Carlos ter sido vítima de racismo, quando jogou na Rússia, a seleção de futsal admite negros. Já os vira na seleção francesa. Na alemã. Na italiana.
Relmente, alguma coisa está mudando para muito melhor. Mesmo porque, se não tivermos negros e mulatos no futebol, penso que a alegria do jogo será menor.
 
* Os Subterrâneos do Futebol - João Saldanha - Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982.
 
Foto: Wikipedia
 
 


Nenhum comentário: