19 de abr. de 2015

"QUANTAS BELEZAS DEIXADAS NOS CANTOS DA VIDA, QUE NINGUÉM QUER E NEM MESMO PROCURA ENCONTRAR"

É o primeiro verso do samba "Esperanças Perdidas", de Délcio Carvalho e Adeilton Alves de Souza, canção que pode ser ouvida por, dentre outros, os Originais do Samba, do grande Mussum, em http://letras.mus.br/os-originais-do-samba/394828/.
Não é raro deixarmos passar por nós belezas muito significativas, das mais complexas às mais simples, sem atinar pelo bem que nos podem fazer.
Quem acompanhou o "Diário de uma pombinha", neste blog, viu a odisséia da espécie, casais fazendo ninho em janelas, em um ramo de jabuticabeira, tendo ficado os filhotes extremamente vulneráveis. Ora um que caindo do ninho no alto de uma janela, e um gato deixando restos de asas de pássaro no chão da garagem; ora era um bem-te-vi comendo os ovos no ninho (quando não rondava os filhotes, para alimentar-se), ora era dois filhotes saírem voando, o que causava grande alegria. A Ana - minha mulher - revelava-se apreciadora daquela situação e insistia para deixasse as pombinhas concluírem um ninho iniciado. Eu relutava, porque o risco era sempre grande para os filhotes, sem contar a sujeira que aprontavam, deixando cheiros muito desagradáveis, ao final da atividade reprodutiva.
A última sessão foi na janela da área de serviço. Ficara ali um vaso retangular, em que, há muito, plantáramos mudinhas de manjericão, que nos foram dadas pela Ana - filha. Sem uso, a cultura foi definhando, até secar. O sol de verão, que bate sempre na janela e a falta de água (pensava haver nada o que irrigar) acabaram por dar oportunidade a um casal de pombinhos para fazer novo ninho. A Ana pediu que deixasse rolar. Rolou, sem qualquer registro fotográfico. Os filhotes desapareceram como que por encanto. Achei que ainda não estavam suficientemente emplumados. Dias antes, um deles desaparecera. A Ana arredou o vaso e encontrou-o atrás, escondido. Não teria conseguido subir. "Decidi" que não haveria mais nidificação ali.
Veio a chuva e algumas plantinhas começaram a nascer no vaso. No meio delas uma planta de mato, que se espalha. Estavam latentes ali, não sei se em sementes ou em raízes.
Ana "resmungou" que estava com saudade das pombinhas. Daí o "decidi" entre aspas. A sensibilidade da Ana impressionou-me. Disse-lhe que iria regar aquele matinho, para que as pombinhas pudessem procriar ali. Passei a regar todos os dias. O matinho consome bastante água. Rego pela manhã e, por volta das três da tarde, as folhas começam a murchar. Nova rega coloca-as em forma rapidamente.
Pois não é que o matinho vingou, está ocupando quase todo o vaso e espalha ramas em volta, com ares de trepadeira. Tímidas florezinhas azuis começaram a aparecer, abrindo-se por volta das nove horas e recolhendo-se após o almoço.
Disfarçadamente, como quem não quer nada, multiplicaram-se para mostrar-me que os sambistas Délcio Carvalho e Adeilton Alves de Souza estão cobertos de razão, quando, na letra, dizem, explicitamente "eu tenho razão". 

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