31 de jul. de 2012

PEDACINHOS DO CÉU - A TENDA DO AUSIER.


               Para os aficionados íntimos, Pedacinhos do Céu. Para minha mulher, Tenda do Ausier. Chorinho da melhor qualidade, ambiente delicioso, música criando clima de romance. Ausier chega a entrar em transe, com seu cavaquinho. Parece que viaja a outro mundo, cheio de magia.

               Acho que ele mesmo não sabe da magia que anda rondando sua casa.

               Estive lá, com minha mulher, duas irmãs e um sobrinho neto. Só pelo “sobrinho neto”, já dá para ver a idade da turma, né? Minhas irmãs, duas provectas senhoras, acima dos setenta. Animadíssimas, maravilhando-se com a música, com a cerveja geladíssima (uma só, a outra fica no refrigerante), com os petiscos. A leveza do ambiente, cada chorinho mais bonito que o outro, execuções seguras e cheias de sentimento.

               Mas não é que, de repente, baixou magia de verdade?

               Um dos freqüentadores achou de paquerar minhas irmãs. Embora minha mulher (muito mais jovem que nós todos) ache que é preconceito, minha filha e eu achamos que já é o primeiro milagre realizado na Tenda do Ausier um camarada, ainda que entrado em anos, paquerar as duas provectas senhoras acima dos setenta, sendo que o mercado masculino anda dos mais em baixa.

               O cara era insistente. Quando a mais nova das duas, talvez constrangida por viuvez recente (ou assustada, pela falta de convivência com a noite), resolveu “saltar fora”, sob o pretexto de levar o bisneto, já ferrado no sono, para o carro, engrenou uma quinta e partiu para a mais velha. Minha mulher bem que tentou colaborar com a magia e salvar a lavoura. Dispôs-se a levar o garoto para o carro, argumentando que de onde estava sentada poderia controlar a situação, pois o carro estava ao alcance da vista, bem próximo. Não adiantou. A paquerada (chamada de linda, pelo galã!) não quis ficar mesmo.

               Aí, foi com a mais velha. Trocaram palavras, ele deixou o endereço. Ela passou receita de sopa para ele. Grande princípio de romance. Minha mulher contrariada porque o galante conquistador ficava entre ela e o palco e ela, além de ouvir, queria ver, também. Mas gostando do romance e até dando o maior apoio.

               Num intervalo, chamou-me para ir até o palco, ver fotos de músicos que passaram pela casa (até o Lula, dando uma de artista, empunhando um cavaco, sem se mancar que passa longe daquela elite, de Waldir Azevedo, Altamiro Carrilho, Beth Carvalho... só fera!). Passamos algum tempo lá. Quando voltávamos, parou e mostrou-me nossa mesa. O galante cavalheiro segurava as duas mãos de minha irmã mais velha, expressões de enlevo, de parte a parte. Minha mulher apressou-se, marcando cerrado. Chegou a tempo de ouvir o cara dizer: “adorei conhecer a senhora!”

               Milagre demais? Ainda não. Ao sentar-se, minha mulher perguntou à cunhada onde estava a muleta dela (na verdade, é uma bengala). Minha irmã respondeu: “Está com você”.

               Não estava. Aí, minha mulher foi procurar no banheiro. Estava lá a bengala.

               É isto aí, Ausier. Para minha mulher, Pedacinhos do Céu virou Tenda do Ausier: não sabe se é o ambiente, a música, a simpatia, tudo o de bom que há na casa. De fazer velhinha largar a bengala! Médica que é, garante: se minha irmã voltar ao Pedacinhos do Céu (Tenda do Ausier, insiste) mais umas três ou quatro vezes, sai de lá curada!

NOTA: Pedacinhos do Céu fica em Belo Horizonte. Endereço, programação, etc., na página da casa (com direito de ouvir "Pedacinhos do Céu", de Waldir Azevedo, com Ausier ao cavaquinho):  http://www.pedacinhosdoceu.com.br/

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