23 de mar. de 2012

CHICO ANYSIO - GÊNIO DO HUMOR


Penso que Chico Anysio é o maior nome do humor, no Brasil (ainda é, porque sua obra segue). Não vou dizer que sua morte deixa um vácuo na arte, porque, infelizmente, parece que já não tinha capacidade física para exercer. E o que já fez está aí, muito bem feito. Prefiro comentar algumas poucas coisas que me impressionaram muito (poucas em relação ao volume de sua obra, que - toda ela - me impressionou sempre e muito).
Primeiro: há muitos, muitos anos, o Chico Anysio publicou uma crônica, na revista Realidade: Brasil, o país do amanhã. Sutil, não dizia o país do futuro. Do amanhã, mesmo. Começa a crônica dizendo que o Papa é uma das figuras mais respeitadas no mundo inteiro. Mas isto porque mora em Roma, e no Vaticano. Se morasse no Brasil, iria fazer propaganda de Coca-cola, dar chute inicial no Fla x Flu... Enfim, avacalhava com o Papa, se viesse para o Brasil. Melhor: avacalhava com o Brasil. Premonição? Pode ser. Quando o Papa veio ao Brasil, uma emissora entrevistou um cara na favela do Vidigal. Perguntaram-lhe o que achara do Papa. Resposta: gente fina, amizade! (um "gente fina" cheio de bossa e malandragem). Nessa mesma crônica, o Chico conta que a polícia descobriu que um pai-de-santo era responsável por vários crimes. Foi ao morro, para prender o elemento. Chegando ao barraco, viram que o homem estava incorporado. O subinspetor não se mancou: "Olha, 'seu' Ogun, trata de subir porque eu preciso encanar seu cavalo". Toda a crônica era de um humor muito fino e retratava tipos nossos, em várias atividades, como polícia, futebol, malandragem... Lamento muito não ter guardado a revista, que saiu de circulação há quase quarenta anos. Gostaria de reler a crônica. Procurei na rede mas ou não tem ou fui incompetente.
Curti muito, também, o vinil, nos anos 1970 - com versão posterior em CD, que tenho ainda - Baiano e os Novos Caetanos. Chico Anysio e Arnaud Rodrigues. Muito divertido, muita arte. Véio Zuza, Selva de Feras (uma sanfoninha com meia dúzia de notas, mas capaz de fazer um forró a noite inteira), O Urubu tá com raiva do Boi, Folia de Reis... Bacana demais!
Coisa que me incomodou foi encontrar um livro escrito pelo Chico Anysio em um sebo. Comprei por merreca. Título: Eu sou Francisco. Conta a história dele e, de quebra, do rádio e da televisão. Penso que, em vez de um sebo, deveria freqüentar as bibliotecas das faculdades de comunicação.
Nesse livro, Chico conta que foi ser artista porque não tinha tênis. Disse que a turma chamou para jogar uma pelada. Ele falou que não podia, porque não tinha tênis. A turma mandou ir buscar em casa, que dava tempo. Foi. Chegando lá, encontrou a irmã Lupi, que saía, acho que com o noivo, para fazer um teste na Rádio Guanabara. Chamou-o para ir junto. Foi trocar de roupa, rapidinho e acompanhou a irmã. Foi aprovado e virou artista. Tudo porque não tinha tênis.
Mil personagens, fico com Albert Roberto. O canastrão que - segundo o Da Júlia, interpretado por Lúcio Mauro - "quando diz que não garava, não grava mesmo!" Gosto do Alberto Roberto porque acho que, em muitas oportunidades, deveríamos imitá-lo: "eu não garavo."

FOTO: http://globointernacional.globo.com/Asia/Paginas/academia-do-riso-chico-total.aspx

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