
Primeiro: há muitos, muitos anos, o Chico Anysio publicou uma crônica, na revista Realidade: Brasil, o país do amanhã. Sutil, não dizia o país do futuro. Do amanhã, mesmo. Começa a crônica dizendo que o Papa é uma das figuras mais respeitadas no mundo inteiro. Mas isto porque mora em Roma, e no Vaticano. Se morasse no Brasil, iria fazer propaganda de Coca-cola, dar chute inicial no Fla x Flu... Enfim, avacalhava com o Papa, se viesse para o Brasil. Melhor: avacalhava com o Brasil. Premonição? Pode ser. Quando o Papa veio ao Brasil, uma emissora entrevistou um cara na favela do Vidigal. Perguntaram-lhe o que achara do Papa. Resposta: gente fina, amizade! (um "gente fina" cheio de bossa e malandragem). Nessa mesma crônica, o Chico conta que a polícia descobriu que um pai-de-santo era responsável por vários crimes. Foi ao morro, para prender o elemento. Chegando ao barraco, viram que o homem estava incorporado. O subinspetor não se mancou: "Olha, 'seu' Ogun, trata de subir porque eu preciso encanar seu cavalo". Toda a crônica era de um humor muito fino e retratava tipos nossos, em várias atividades, como polícia, futebol, malandragem... Lamento muito não ter guardado a revista, que saiu de circulação há quase quarenta anos. Gostaria de reler a crônica. Procurei na rede mas ou não tem ou fui incompetente.
Curti muito, também, o vinil, nos anos 1970 - com versão posterior em CD, que tenho ainda - Baiano e os Novos Caetanos. Chico Anysio e Arnaud Rodrigues. Muito divertido, muita arte. Véio Zuza, Selva de Feras (uma sanfoninha com meia dúzia de notas, mas capaz de fazer um forró a noite inteira), O Urubu tá com raiva do Boi, Folia de Reis... Bacana demais!
Coisa que me incomodou foi encontrar um livro escrito pelo Chico Anysio em um sebo. Comprei por merreca. Título: Eu sou Francisco. Conta a história dele e, de quebra, do rádio e da televisão. Penso que, em vez de um sebo, deveria freqüentar as bibliotecas das faculdades de comunicação.
Nesse livro, Chico conta que foi ser artista porque não tinha tênis. Disse que a turma chamou para jogar uma pelada. Ele falou que não podia, porque não tinha tênis. A turma mandou ir buscar em casa, que dava tempo. Foi. Chegando lá, encontrou a irmã Lupi, que saía, acho que com o noivo, para fazer um teste na Rádio Guanabara. Chamou-o para ir junto. Foi trocar de roupa, rapidinho e acompanhou a irmã. Foi aprovado e virou artista. Tudo porque não tinha tênis.
Mil personagens, fico com Albert Roberto. O canastrão que - segundo o Da Júlia, interpretado por Lúcio Mauro - "quando diz que não garava, não grava mesmo!" Gosto do Alberto Roberto porque acho que, em muitas oportunidades, deveríamos imitá-lo: "eu não garavo."
FOTO: http://globointernacional.globo.com/Asia/Paginas/academia-do-riso-chico-total.aspx
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