8 de jul. de 2014

DIÁRIO DE UMA POMBINHA - O RETORNO


Querido diário,

Não consegui dormir, na noite passada, pensando na brutalidade do bem-te-vi que roubou e comeu meus ovinhos, que eu aninhava com tanto carinho.
O ex-futuro papai procurou consolar-me, pousou perto de mim no muro que fica perto da "nossa" árvore, onde eu vim, hoje pela manhã, tentar entender o que aconteceu. Estava triste e não consegui sentir consolo. Andei um pouco pelo muro, com meu amado me seguindo o falando palavras de conforto.
Voei de um lado para o outro, passando por perto do ninho, sentindo-me angustiada ao vê-lo vazio. Não me senti bem, e voei para cima da grade de ferro que protege uma janela próxima. Fiquei ali como que acuada, desorientada, não conseguindo achar caminho, sem saber para onde ir. Foi quando meu amado voou para encontrar-me
ali. Caminhei sobre a grade e ele seguiu-me, ficando bem pertinho. Fiquei sensibilizada por seu gesto, atitude com que mostrava que estava comigo e não abria. Dizia ele que a vida continua, que não era motivo para desespero. Mas não era hora em que eu conseguisse concentrar-me nisto. Insistia em consolar-me, mas eu não aceitava seus argumentos. Dizia que poderíamos ter outros filhotinhos. Sei disto, mas ainda não estou preparada, a tristeza
não deixa.

Resolvi voar um pouquinho, por sobre a "nossa" árvore. A visão do ninho vazio encheu-me de tristeza e resolvi que, se formos tentar outros filhotes, não haverá de ser naquele ninho, para onde o bem-te-vi malvado trouxe tanta dor. Acho que vou acabar voltando a tentar filhotes, mas por enquanto não vai rolar. 
Estou certa de que acabarei assimilando o golpe, mesmo porque sou um ente da natureza e nela vivo, com as boas e más coisas. Uma cegonha minha amiga, que andou viajando para as bandas do Mato Grosso, falou-me de um cantador de lá, que fala sobre isto: "Pois a natureza é isso, sem medo, nem dó, nem drama".



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